"Escrevo como que para salvar a vida de alguém. Talvez a minha própria". Clarice Lispector. Então não se preocupem em entender o que escrevo. Nem mesmo me julguem. Pois só eu sei a dor e a alegria de ser o que sou.
sábado, 14 de dezembro de 2013
Vou Voltar para Mim MesmaMinha vida é um grande desastre. É um desencontro cruel, é uma casa vazia. Mas tem um cachorro dentro latindo. E eu — só me resta latir para Deus. Vou voltar para mim mesma. É lá que eu encontro uma menina morta sem pecúlio. Mas uma noite vou à Secção de Cadastro e ponho fogo em tudo e nas identidades das pessoas sem pecúlio. E só então fico tão autónoma que só pararei de escrever depois de morrer. Mas é inútil, o lago azul da eternidade não pega fogo. Eu é que me incineraria até meus ossos. Virarei número e pó. Que assim seja. Amén. Mas protesto. Protesto à toa como um cão na eternidade da Seção de Cadastro.
Clarice Lispector, in 'Um Sopro de Vida'
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